Fernando Pacheco é uma das vozes que mais se impõem, sem subterfúgios, na análise da sociedade e política angolanas. Ao olhar para trás, vê um país bem distante dos sonhos que alimentaram a sua geração. A“geração dos quase”, como lhe chama, por não ter tido “verdadeiramente acesso”a cargos do poder – eram demasiado novos na altura da independência, e agora já “não vão a tempo”. Não gosta da expressão “falhas geracionais” e admite que abandonar o aparelho do Estado e o MPLA, e fundar a ADRA, lhe deu uma liberdade para desenvolver os seus projectos sem obedecer a “ordens superiores”. “Não estou nada arrependido”, garante.
NGAPA Desde que Angola é independente, tem vindo a contribuir na sua área de saber com vista a um futuro melhor. Chegou onde queria?
FP O meu sonho era que,neste momento da minha vida, Angola fosse um país próspero, desenvolvido,pacífico, sem pobreza nem desigualdade social e com democracia. Por variadíssimas razões, em quase todos estes aspectos o país está muito longe de se cumprir. Não considero que tenha sido uma falha minha, porque procurei, na medida do possível, contribuir para que estes objectivos fossem alcançados. Possivelmente não o terei feito da melhor forma, mas procurei dar o meu melhor. Muitas vezes, sacrificando-me a mim e, principalmente, a minha família.
NGAPA Pelo conhecimento que detém podia, por exemplo, ter abandonado o país nos momentos mais difíceis e fazer a vida em qualquer outra parte do mundo. Por que não o fez?