Matriz

Haverá um “nós” mulheres?

Marta Lança
foto/ilustração:

“Não serei eu mulher?”, bell hooks

No movimento feminista e por direitos civis, desde a luta sufragista (entre o fim do século XIX e a primeira metade do século XX), passando pelos anos 70, as mulheres negras encontraram-se numa encruzilhada: não podiam falar sobre questões de género para não se desviarem do importante combate à opressão racial; tampouco era oportuno trazer à baila as questões raciais, para não secundarizar a denúncia ao machismo. Apesar das apregoadas alianças e da almejada sororidade, as “famílias” que foram compondo o feminismo entreolhavam-se sem se verem, ou não querendo entender as diferenças e as urgências de cada qual. A visibilidade e liderança penderam, porém, para as feministas brancas de classe média, que tendencialmente dissociam e hierarquizam as preocupações raciais das de género.

Não encontrando lugar numa emancipação feminina que não incluísse dois elementos determinantes na sua vida — “ter nascido negra e ter nascido mulher” (p. 33) —, a norte-americana bell hooks (1952 — 2021) escreveu, em modo interrogativo, à procura dessa identidade interseccionada. A experiência pessoal seria o ponto de partida para a experiência social: “antes de exigir aos outros que me ouvissem, tinha de me ouvir a mim” (p. 10).

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