Movimento

Uma veia contraditória (Parte II)

Ery Cláver
foto/ilustração:
Tiago Mena Abrantes

Na edição anterior... Uma pequena e seca comunidade, o Monte de Pedras, encara, angustiada, a Comuna Verde, abundante aldeia na margem do rio. Certo dia, um tubo corrugado surge misteriosamente bem na fronteira entre os dois povoados. A disputa não tarda. Entre o espanto e a ganância, Cardoso, arrogante e fiel vigilante da Comuna Verde, surpreende na calada da noite Agostinho, jovem destacado do Monte de Pedras. Dispara-lhe à queima-roupa. De manhã cedo, a população à volta logo entendeu sangue.

EXT. JANELA QUARTO DE JAMBA - MONTE PEDRAS - DIA

Irmã Maria encosta-se fora da janela de Velho Palma.

IRMÃ MARIA Irmão Jamba, com a licença...O Irmão tá aí?

O ruído do catarro a entupir a garganta anuncia-o.

VELHO JAMBA Irmã...?

O ar ao redor berra um estridente eco – “Agostinho, ué!!!”.

IRMÃ MARIA Com uma bala no peito... deram com ele caído na fronteira, bem ao lado do tubo. Tão a dizer foi o Cardoso.

VELHO JAMBA Possas, Agostinho... lhe dizia para caminhar devagar... é uma perda, Irmã.

IIRMÃ MARIA Que Deus o tenha.

VELHO JAMBA E os de lá, falaram como?

IRMÃ MARIA Ainda. Devem estar a escolher as palavras. Mas cá dentro depois das lágrimas vão querer conversar... Que é assim venho pedir uma palavra.

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