Volto a Benguela. Onde a dança, a minha, começou. Anos de pausa-activa-pausa-suspensa nas ilhas crioulas. À espera desta explosão onde o meu corpo se contorce em memórias de lugares que já não o são. Corridas de joelhos esfolados e banhos em desaparecidas lagoas para os lados da casa da cerâmica, onde nasci.
Retomo este baile para o refazer, integral, um dia. Retomo-o, dizia, em posição fetal. Ou de quem se prepara, na escuridão quente do líquido primitivo, para o primeiro destelho de luz do sul. Nasço e renasço neste chão. Arranco-me pela raiz. Como casuarina e acácia. No movimento de uma trança grossa e negra, solta em todas as direcções, varro o espaço ao girar do meu corpo. Volto. 42 anos depois.
Desta raiz me parto. E arranco.